A depressão diante da crise climática e da realidade capitalista do mundo atual.
O pesquisador Elton Corbanezi liga a depressão à atual realidade capitalista, em que até mesmo o cuidado com a saúde mental é individualizado.
Atualmente, estamos enfrentando uma pandemia com nome, estatísticas e formas bem definidas, no entanto, não estamos lidando apenas com ela. Há crises mais silenciosas e profundas que ainda não damos conta: os casos de depressão e a atual crise climática.
A depressão já é considerada a principal causa de incapacidade no mundo, podendo levar ao suicídio, em casos extremos. Com a pandemia, o isolamento e desemprego em massa, tais quadros foram se agravando.
A relação presente entre capitalismo e saúde mental pode ser revelada na constante pressão desenvolvida sobre um indivíduo que precisa estar sempre ativo economicamente. Relacionado à noção da produtividade, sem pausas, para alcançar maior performance, temos como efeito outros transtornos conhecidos como ansiedade e Síndrome de Burnout (esgotamento em função do excesso de trabalho). Pois dentro da cultura do neoliberalismo, não basta cumprir metas, é preciso superá-las.
Além disso, assim como a noção de meritocracia no atual mercado de trabalho, a responsabilidade por uma saúde mental recai majoritariamente sobre o ombro do indivíduo, que precisa se cuidar, seja com a prática de exercícios, como yoga ou esportes, ou com um acompanhamento médico constante. Ou seja, retorna à exigência de se administrar apenas individualmente o problema sem olhar para as estruturas sociais que sustentam esse funcionamento.
Dentro desse contexto, nos tornamos individualmente os administradores da nossa vida em sentido integral, desde políticas sociais até o autocuidado. O modelo de vida social que temos é de uma sociedade que produz vencedores e perdedores.
Segundo o pesquisador, isso tudo dá a impressão de ser um processo natural, quando na verdade há uma construção de longa duração que forja esse tipo de cultura. A tomada de consciência é importante. Diz ainda que:
o papel educativo é fundamental para qualquer outro passo que a gente possa dar em termos de mudança de paradigma.
Deste modo, a crise está transbordando de todos os lados, seja a crise climática, somática ou psicológica. Assim como o pesquisador sugere, reforço que temos muito a aprender com os povos indígenas para desenvolver uma economia que seja mais da suficiência do que do excesso. Só assim teríamos uma mudança de fato estrutural. Levando em consideração que esses processos são longos, ainda falta uma alteração cultural mais profunda.
Isabella Muniz
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