O urgente despertar da espiritualidade para a compaixão animal.
Pax et bonum! Paz e bem! Esta era a saudação usada por São Francisco de Assis e é a saudação usada por muitos de seus admiradores, pois este santo católico é amado em diversas correntes religiosas devido à sua espiritualidade plena de contemplação e compaixão. Esta é a maneira com a qual também quero me dirigir aos estimados leitores: Pax et bonum!
A busca da paz e do bem é claramente uma decisão ética individual-universal que nasce, a priori, no princípio da liberdade humana e se realiza, a posteriori, no exercício das escolhas e decisões livres que fazemos. A passagem bíblica do Deuteronômio 30, 15, nos dá o fundamento desta questão que envolve a liberdade: “Tomo hoje por testemunhas o céu e a terra contra vós: ponho diante de ti a vida e a morte, a bênção e a maldição. Escolhe, pois, a vida, para que vivas com a tua posteridade”. Numa breve reflexão, temos aqui vários pontos a abordar. Primeiramente, nos deparamos com um conselho divino: “Escolhe a vida!”, juntamente com uma promessa: “...para que vivas com a tua descendência!” e um princípio eterno: “A liberdade humana”. Nisto concluímos que a vida é feita de escolhas.
O fato é que, no contexto histórico que vivemos, nos encontramos, por que não dizer, aflitos. Vivemos de incertezas e inseguranças. Não sabemos o que ainda nos espera devido aos flagelos humanos, individuais e coletivos, frutos das escolhas dos que comandam e tomam decisões éticas-econômicas em nossa humanidade e que abarca a todos que estão inseridos nela. Nos encontramos machucados pois temos perdido muitas vidas pelas últimas pandemias (corona vírus, cepas e variantes). No princípio eram pessoas anônimas para nós, depois pessoas conhecidas, um pouco mais, apareceram familiares vitimados. Como seres humanos compassivos, nos solidarizamos e nos confortamos mutuamente.
Diante deste cenário, cabe uma reflexão: não está na hora da humanidade escolher e se decidir, livremente, pela vida?
É bastante desolador constatar, ao longo da história, que as escolhas da humanidade têm se pautado por serem escolhas de morte, que maculam, em primeiro lugar, a própria essência humana, uma vez que somos imagem e semelhança de Deus, na medida que somos seu reflexo aqui na Terra. Não podemos considerar os grandes flagelos humanos como castigos de Deus, mas como consequências da escolha de modelos de vida exploratórios, predatórios e perversos, que agridem a Criação divina e nos colocam numa engrenagem de morte que parece ser indestrutível. A suposta inocência por tudo que acontece hoje não é mais desculpa para a humanidade. Acesso às informações em todos os meios e veículos de comunicação e profissionais de todas as áreas, não faltam. O grande vírus que nos paralisa e que torna nossas reações fracas, é o vírus da indiferença, do “não sentir” (Papa Francisco).
Há mais de 50 anos somos conscientes que as ações humanas intensificaram a destruição sistemática de nossa “Casa comum”. A prova disto é apenas vermos as retrospectivas históricas que estão acessíveis a nós por meio da memória visual de nossas mídias. Por muitas décadas a derrota da vida está sendo sacramentada, contrapondo a lição de restauração e ressurreição ensinada pelos cristãos, muitos dos quais colaboram nesta autodestruição. Não se pode admitir qualquer religião que não leve em conta a vida dos animais não humanos. Tudo está interligado e somos colaboradores na obra da Criação. O primeiro passo para um recomeço, para aspirar novos céus e nova Terra é admitir esta verdade escatológica.
Padre Paulo Cesar Rosa da Conceição
Vigário da Paróquia Santa Teresinha do Menino Jesus, Campo Bom – RS
Fone: (51) 99567-9656
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Referência bibliográfica usada:
BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada. Tradução da CNBB. Brasília: 13ª Edição, 2012. Edições CNBB.